CONHECIMENTO CIENTÍFICO

LUNGARZO, Carlos. O que é Ciência. São Paulo, Brasiliense, 1989. (Coleção Primeiros Passos, v. 220)

O conhecimento científico é racional, mas tem a pretensão de ser sistemático e de revelar aspectos da realidade. As noções de experiência e verificação são essenciais nas ciências; o conhecimento científico deve ser justificado e é sempre passível de revisão, desde que se possa provar sua inexatidão. Entretanto, não devemos esquecer que a Matemática, por exemplo, é considerada por muitos uma ciência, apesar de grande parte de seus conhecimentos não se referirem diretamente à realidade e não poderem ser por ela provados ou refutados.
De acordo com Charbonneau (2002, p.78), “Ciência é uma das missões mais ingratas a que se propõem muitos trabalhos sobre metodologia científica e, em geral, essa definição é incrivelmente breve”. Trata-se do exercício de definição de um conceito que acabava variando consideravelmente, dependendo da formação daquele que o realiza, de sua visão de mundo, das intenções do texto e de seu público alvo.
Enquanto um filósofo pode classificar a ciência como uma dentre várias formas de conhecimento, para um cientista ela pode ser considerada o conhecimento por excelência. Para aqueles que se opõem aos progressos advindos da industrialização, a ciência é o terror da humanidade, responsável até mesmo por nossa provável autodestruição. Um sociólogo, por sua vez, pode estudar a ciência como o resultado de forças socioeconômicas conflitantes, abordando sobre os aspectos ideológicos que a constituem e a envolvem. Já um leigo encara, em geral, muitos ramos da ciência como um “bicho-de-sete-cabeças”, e assim por diante.
Podemos colocar em dúvida a existência de um conjunto de atividades homogêneas o suficiente para justificar  a classificação da égide de um só conceito: a Ciência. O mais adequado seria, portanto, utilizarmos o termo no plural: existem várias ciências com alguns pontos em comum, mas muitas diferenças. O que torna as diversas disciplinas científicas distintas seria mais intenso e valioso do que, supostamente, funcionaria como elemento para a ligação e união dessas disciplinas num conjunto mais amplo que pudesse ser denominado “ciência”.
Lançando mão das fontes que contextualizam as origens da ciência e do conhecimento, logo percebemos a impossibilidade de emanciparmos da filosofia. Legados metodológicos como a dialética, a erudição, a eloqüência, a retórica, a observação, a comparação e o diagnóstico são imprescindíveis para a produção do saber (relação epistemologia e empiria).
A produção do conhecimento ocorre na relação dualista entre sujeito e objeto. Entende-se por sujeito aquele que conhece que aplica os métodos ou recursos de investigação; é aquele que observa, compara e diagnostica os fenômenos (objeto, proposta, experiência, temática, elemento). Por outro lado, o objeto é o fenômeno em situação de desconhecido, ou seja, não investigado.
O conhecimento possui uma essência. A sua ligação está vinculada ao conceito de verdade. Desse modo, Hessen define verdade como:

Concordância da figura com o objeto. Um conhecimento é verdadeiro na medida em que seu conteúdo concorda com o objeto intencionado. O conceito de verdade é um conceito relacional. Ele expressa um relacionamento, a saber, o relacionamento, a saber, o relacionamento do conteúdo do pensamento da figura com o objeto (HESSEN, 2000, p.23).

            A citação de Hessen (2000), no que tange à produção do conhecimento, reforça a dualidade entre o sujeito e o objeto, entretanto o saber admitido como verdade absoluta revela suas fragilidades. A ciência e a teoria do conhecimento atribuíram data de validade às verdades construídas na dualidade sujeito/ objeto. A expansão das frentes de pesquisa e o processo de dinamização dos recursos metodológicos possibilitaram atribuir a verossimilhança à verdade, ou seja, estabelecer data de validade a ela.
O Método científico pode ser definido como a maneira ou o conjunto de regras básicas empregadas em uma investigação científica com o intuito de obter resultados o mais confiáveis quanto for possível. Entretanto, o método científico é algo mais subjetivo, ou implícito, do modo de pensar científico do que um manual com regras explícitas sobre como o cientista, ou outro, deve agir.
Geralmente o método científico engloba algumas etapas como: a observação, a formulação de uma hipótese, a experimentação, a interpretação dos resultados e, por fim, a conclusão. Porém alguém que se proponha a investigar algo através do método científico não precisa, necessariamente, cumprir todas as etapas e não existe um tempo pré-determinado para que se façam cada uma delas. Charlie Darwin, por exemplo, passou cerca de 20 anos apenas analisando os dados que colhera em suas pesquisas e seu trabalho se constitui basicamente de investigação, sem passar pela experimentação, o que, contudo, não torna sua teoria menos importante. Algumas áreas da ciência, como a física quântica, por exemplo, baseiam-se quase sempre em teorias que se apóiam apenas na conclusão lógica a partir de outras teorias e alguns poucos experimentos, simplesmente pela impossibilidade tecnológica de se realizar a comprovação empírica de algumas hipóteses.
O método científico como conhecemos hoje foi o resultado direto da obra de inúmeros pensadores que culminaram no “Discurso do Método” de René Descartes, onde ele coloca alguns importantes conceitos que permeiam toda a trajetória da ciência até hoje. De uma forma um pouco simplista, mas apenas para dar uma visão melhor do que se trata o método proposto por Descartes, que acabou sendo chamado de “Determinismo Mecanicista”, “Reducionismo” ou “Modelo Cartesiano”, ele baseia-se principalmente na concepção mecânica da natureza e do homem, ou seja, na concepção de que tudo e todos podem ser divididos em partes cada vez menores que podem ser analisadas e estudadas separadamente e que (para usar a frase clássica) “para compreender o todo, basta compreender as partes”.
Talvez, o exemplo mais fácil de verificar o método proposto por Descartes, seja através da medicina: baseada no modelo cartesiano a medicina se dividiu em especialidades cada qual procurando entender os mecanismos de funcionamento de um órgão ou parte específica do corpo humano. As doenças passaram a ser encaradas como algum distúrbio em determinada parte que constitui o homem, e o homem em si, como um todo, deixa de ser considerado na investigação da medicina segundo modelo cartesiano.
Que o método de Descartes funcionou, não resta dúvidas a ciência evoluiu como nunca com a aplicação deste método. Porém a ciência que tinha como objetivo primeiro, proporcionar o bem estar ao homem através da compreensão e modificação da natureza a seu favor, como propôs Francis Bacon seguido por Descartes, perdeu seu sentido. Com a aplicação do modelo reducionista em todas as áreas do conhecimento as interações entre as partes e o todo e entre este e outros deixou de ser considerada causando sérios distúrbios sociais, ambientais e ameaçando até a existência do próprio homem em contradição com seu princípio fundamental.
Para Carlos Lungarzo todas as pessoas conhecem certos fatos, mesmo sem ter estudado ciências, esse conhecimento esta ligado ao senso comum. Entretanto há pessoas que vão fundo e as pesquisam adquirindo um conceito mais aprofundado. Todavia, nem sempre a diferença entre as duas classes de explicação é tão grande. A diferença entre o senso comum e o conhecimento cientifico esta na maneira de conhecer ou justificar este saber. Está no processo de obtenção, justificação e transmissão do conhecimento.
A Ciência é muito abrangente e tem diversos significados. A Ciência pode ser entendida como religião, arte, literatura, atividade científica em geral ou ainda como conhecimento científico. A Ciência como teoria e a ciência como processo de conhecimento tem uma relação muito estreita e o cientista faz a interação entre elas.Há diversos campos de atuação da ciência, o que levou a uma primeira divisão entre elas: as ciências naturais e as ciências humanas. Elas têm campos diferentes de estudo, embora existam zonas de superposição entre elas. As ciências naturais são as ciências dos fatos da natureza, do mundo físico, químico, biológico e algumas outras. Já as ciências humanas analisam,estudam, pesquisam fenômenos relativos ao homem, como a psicologia, sociologia, a história, etc. Contudo, tanto as ciências naturais como as humanas participam de uma propriedade fundamental. O conhecimento científico origina-se nos fatos reais, sejam da natureza, do homem, da sociedade, da mente, entre outros.
                         REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

LUNGARZO, Carlos. O que é Ciência. São Paulo, Brasiliense, 1989. (Coleção Primeiros Passos, v. 220).
CHARBONNEAU, Paul- Eugéne.  Curso de Filosofia: lógica e metodologia. São Paulo: EPU, 2002.
HESSEN, Jhohannes. Teoria do conhecimento. São Paulo: Edusc, 2002.

                                     

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